domingo, 13 de setembro de 2009

Eu, um menino

Eu sou uma mulher que não entende mulheres. Talvez por ter crescido com dois irmãos, vários primos e muitos amigos meninos. Nunca fui de subir em árvores, jogar futebol ou fazer coisas tipicamente masculinas. Na verdade eu era frágil como qualquer outra menina, mas sempre admirei, com uma ponta de inveja, o instinto desbravador, o ímpeto, a força e companheirismo masculino. E aquela tal mania de quebrar para depois consertar. Nos meninos tudo era lindo, dos mais brutos aos mais sensíveis. Pois que em meio a toda esse energia, sempre havia uma maneira de torná-la branda. Dissipá-la. Porém, para mim, entre meninas era um ambiente de hostil delicadeza . Estranho combinar o hostil e o delicado, mas entre meninas tudo é possível, incoerente, dramático, intenso. Lá, nesse mundo de meninas, os gritos e risadas de alegria, as cores, as conversas, as briguinhas típicas, entre tantas outras coisas típicas de meninas, geravam uma energia que não se dissipava facilmente. Que não se calava. Como se se movessem com mais rapidez, e eu nunca estivesse pronta a acompanhá-las, nem elas dispostas a esperar. Enquanto, entre meninos eu era mais um, entre ela eu era apenas expectadora. Assustada, assim como quem se deslumbra pela paisagem que desconhece, para então perceber que está perdido. Como um dos meninos, descobri que meninas são seres atraentes, enevoadas numa uma delicadeza, que dissimulava a hotilidade, força, rudeza até. Se sou sensível, essa é minha metade menino.